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terça-feira, 10 de abril de 2007

Pra tudo se dá um jeito

Meus pensamentos voavam desde cedo...

Seus olhos exibiam uma tênue luz, daquelas que só se vêem em um quarto escuro onde a porta está semi aberta, e por onde entra um feixe de luz amarelada. Exibiam acima de tudo a bondade e o exato Amor que apenas um Pai ou uma Mãe exibem verdadeiramente. Mas não todo Pai e nem toda Mãe são capazes de algo assim... Pensei ali, naquele momento que um dia talvez eu seria assim, despojada de propósitos próprios, amorosa e uma pessoa voltada para a família.
Eu tinha 6 anos na época em que meu pai me acordava logo de madrugada quando o sol era apenas uma idéia fraca de luz quente. Às vezes a cerração cobria grande parte do bairro que mais parecia um grande morro, e não dava para distinguir onde estavam as pequenas casinhas de tábua que se aglomeravam sem pudor algum. Uma ou outra vez passava algum morador que se dirigia ao ponto de ônibus rumo ao trabalho e cumprimentava meu pai, que entre a tosse interminável e uma tragada de cigarro respondia com um aceno de cabeça.
Eu ainda posso sentir o cheiro de cigarro misturado ao cheiro de sabonete e café que meu pai tinha quando eu era pequena... E embora todos fôssemos humildes, éramos felizes, e não sabíamos.
Em nossa casa havia sempre muita gente. Pessoas que iam e vinham todos os dias em busca de papo furado, ou de conversa mais séria... E de vez em quando havia uma vizinha falando das manchetes do dia daquele bairrinho. Quando havia criança eu brincava, quando não havia, brincava do mesmo jeito. Não havia televisão que me segurasse no sofá, a não ser se estivesse com febre ou algo parecido.
Quando chovia muito minha casa se transformava em um pequeno rio, fato que aborrecia e muito os meus pais e irmãos, embora eu achasse muito divertido.
Minha mãe conheceu meu pai no sítio onde moravam, e ela lavava suas roupas e ajudava minha avó, uma italiana forte tanto de personalidade quanto fisicamente falando. Logo, em meio a explosões de felicidade e problemas que invariavelmente o amor nos trás, tiveram que enfrentar meu avô materno que logicamente almejava um partido melhor para qualquer de suas filhas, senão todas elas, e não um pobretão como meu pai, sem eira nem beira.
Graças a Deus, minha mãe bateu o pé e então em um certo dia, se casaram e viveram felizes na maior parte do tempo, acho...


Leon se arrumava para o casamento e pensava o quanto seria bom se seus pais ainda fossem vivos... Ele pelo menos teria orgulho por ver que seu filho se casava com uma moça linda, prendada e de família boa.
Lembrou-se daquele dia fatídico em que seu pai foi morto por um assassino covarde. Tinha apenas 6 anos. Época difícil em que quem possuía um pedaço de terra, também tinha que ter capangas para protegê-las de seus vizinhos maiores e gananciosos... ou simplesmente, de ladrões.
Depois do assassinato de seu pai e madrasta, ficaram todos sozinhos, tantos filhos órfãos deixados a Deus dará... Foi preciso vender o sítio por um dinheiro miserável que mal deu para passarem um ano sequer...
Mas agora ele estava se casando... Com a Gina, uma moça linda e boa. Tudo daria certo.
Em outra casa, uma moça de cabelos cor de mel e olhos da mesma cor, vivia um momento lindo de plenitude, só quebrada uma vez ou outra pelos xingamentos de seu pai que ainda não acreditava que uma de suas filhas se casaria com um João-ninguém. “Amor não enche a barriga, viu?”, gritava ele. O fato é que estava feliz por se ver livre daquela casa, onde tanto apanhavam por motivo qualquer e por motivo nenhum também. Sua avó também chegou a ser agredida várias vezes por seu pai. E sua mãe, coitada! Sofria com as escapadelas dele e de suas agressões que machucavam e deixavam marcas que jamais seriam esquecidas nem mesmo pelo agressor.
Sentia-se linda naquele vestido, com aquela grinalda... Talvez jamais houvesse outra chance como aquela de ser feliz com aquele que amava. “Ah, Leon...”, cantarolava...


Passou-se 11 meses e Gina acabava de ter seu primeiro filho, Carlos. Era um bebê lindo, quase um anjo, com olhos claros, pele branca e rosada, cabelos ralos e louros, quase avermelhados em alguns lugares.
Tinha resolvido que seria melhor ter o bebê na casa de seus pais por insistência de sua mãe.
Jamais sofrera tanta dor assim. Não imaginava, embora já tivesse visto partos, que fosse tão difícil ter um na pele. “Ainda bem que o Leon achou a parteira aquela hora da noite, ou, sabe se lá...” Pensava...
_ Gina! Estou falando coce! Ta me ovindo não? Ta passano mar, fia?
Olhou para sua mãe e pensou o quanto aquela mulher era forte, e desejou ser como ela.
_Eu to bem mãe, a senhora não se percupe... Tô apenas cansada e percupada co nenê.


Na verdade ela não entendia algumas coisas que lhe aconteciam, como por exemplo, a raiva que sentia sempre que seu marido conversava com quem quer que fosse. Seria como se ele desse mais às pessoas que a ela mesma, que era para ser a mais importante pessoa de sua vida. Por que dar mais importância aos outros que a ela? Por que perder tempo com outros enquanto poderiam estar juntos? Voltou seus pensamentos ao filho que acabou de nascer, desejando que ele fosse o principio de mudanças boas em suas vidas...


Meus pais tiveram ainda mais cinco filhos. O segundo bebê a nascer foi Neide. Depois vieram Ana, o Nilton e a Vera que faleceu devido à pneumonia trinta dias após seu nascimento. Para continuar minha história devo relatar como aconteceu esse infortúnio que talvez tenha sido o que desencadeou a história de minha vida e de toda minha família.
Minha irmã Vera nasceu saudável e linda, como todos os bebês devem nascer. Após alguns dias começou a ter febre e tosse, acompanhada de diarréia. Foi levada ao hospital e lá ficou até sua morte, ao completar um mês de vida. Meu pai foi a única pessoa em seu enterro. Carregou com emoção aquele caixãozinho branco para o cemitério. Minha mãe não acreditava em como podia ter acontecido aquilo. No dia seguinte mesmo debaixo de chuva e baixíssima temperatura, se pôs a voltar ao trabalho na lavoura. Ficou muito tempo inconformada e vivendo aos prantos, chorando por sua filhinha que por tão pouco tempo carregou em seus braços.
Foi então que se descobriu grávida novamente. A alegria e esperança se misturavam com a promessa que fez a algum santo se essa criança fosse menina como a outra. Assim começa minha história e a história de duas pessoas que são importantes para muita gente.

4 comentários:

Anônimo disse...

Tentei correr a página com as setas direcionais do teclado e fui presenteado com uma janelinha dizendo: "Copie de outro." Que coisa boba! Uma tentativa tola de defesa que acaba estragando todo o restante. Muito egóico. Lamentável

se melhorar estraga disse...

Olá anônimo...
Acho que não é uma atitude egoista de minha parte, mas me desculpe se vc se sentiu ofendido. Continue me visitando mesmo que para críticas produtivas. Minha intenção é melhorar cada vez mais. Abraço.

Anônimo disse...

Olá Silvia.
Estou achando linda sua história. Bjs.

Anônimo disse...

Lindo post (já li a continuação tbém).Família é coisa linda...tenho a impressão que só com o passar dos anos é que vamos compreendendo o tamanho da importância desse amor.
Bjão pra vc, que bom que voltou!
Que Deus te ilumine.